quinta-feira, 15 de novembro de 2012






Qual seria o motivo da vida e de tantos encontros e desencontros? A pergunta não saía da mente da mulher que seguida dentro do ônibus na direção de sua casa, depois de uma viagem cansativa, porém com momentos de felicidade. Aliás, o que é a felicidade? Seria o eterno dilema entre fim último e descobertas na caminhada? Várias perguntas estavam sem resposta. Mas, sua mente se acalmava, seu coração se aquietava... A imagem das mãos unidas. As mãos. Sempre representavam mais romantismo em sua vida do que beijos e carícias trocadas. As mãos unidas. A sensação de companhia. Os elogios depois de um dia ruim. A vida realmente era mais do que o sucesso em uma simples prova.
E a crise novamente se impunha, com a força atroz do furacão. A vida se apresentava como uma bifurcação e era necessário tomar um caminho. Qual caminho tomar? Essa pergunta a perseguia havia tempos. Mas, a resposta não emergia. Qual caminho tomar? Dizer sim? Dizer não? Seria tudo isso fruto de mais sofrimento?
As mãos, simplesmente as mãos. Elas não saíam de sua mente. A sensação de afeto. A vontade de amar. O inesperado. A magia. O amor. A distância. A Saudade. As mãos. O coração se aquece e se desespera. As mãos... E Cartola toca ao fundo. Desde agora, com outro significado. As mãos e a melancolia do samba. As mãos. O coração aquecido. As mãos. 

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010




Final de ano. Época de refletir sobre esse 2010 que logo se finda. Época em que penso em tudo que se foi neste e nos outros anos. Às vezes, é duro. Às vezes, é chato. Às vezes, é sofrido...

Mas, deixando as reflexões pessoais de lado. Penso muito ultimamente sobre pesquisa e nosso papel. Sobre a população de rua, a exclusão social, assistência social, a pobreza, a miséria. Todas essas mazelas, que de uma forma ou de outra – através de telejornais e leituras específicas, vendo algumas coisas de perto, sentindo na pela outras – que me trouxeram pra Ciências Sociais.

Poderia ficar discutindo aqui teoricamente que “assistencialismo” não tem nada de pejorativo. Que me deixou estressada e, por vezes, até raivosa a campanha em massa contra a Dilma, os mapas que compararam analfabetismo com o mapa de eleitores da presidenta eleita e tudo mais. Aliás, eu poderia reclamar do termo presidenta (com “a”) que nem sempre é utilizado, ou falar mais uma vez que Política é referente ao público e, portanto, não é considerado local de mulher... E como aprendi isso na marra! Mas, não. Não vou falar aprofundadamente sobre isso.


Quero contar aqui da minha experiência de ir ao Natal do MNCR juntamente com o Lula e com a Dilma em São Paulo.

A emoção latente de todos os presentes que estiveram no evento se transformou em euforia coletiva ao anunciarem a entrada do atual presidente e da presidenta eleita. Festa. Alegria. Rostos maravilhados com as cenas que viam. Palmas. Gritos. Bandeiras. Câmeras. Aliás, um mar de câmeras. Flash.Tudo numa mistura que harmoniosa. Ou melhor: quase harmoniosa.


Sem dúvida alguma presenciamos passos importantes na história desta nação. Não vou aqui defender PT, avacalhar PSDB, nem tomar partidos partidários. Política, para mim, está muito além das alianças partidárias, das eleições ou promessas de um novo mandato. Mas, como o Lula mesmo falou naquele dia – e como eu já havia comentado com um colega de pós ali presente – quem diria que estariam ali, dividindo o mesmo palco, pessoas que tiveram sua trajetória familiar nos lixões e o atual presidente e a presidente eleita? (além de outras autoridades políticas)

Quem diria que veríamos isso, não?


Mas, quem diria que em um encontro onde Lula fornece ao MNCR caminhão para melhor aproveitamento de seu trabalho, onde a iniciativa de fazer varais com material reciclável e toda essa onda de Economia Solidária, a solidariedade não estaria tão presente assim?

Basta mesmo colocar o adjetivo “solidária” pra transformar a Economia em algo que seja menos mercado? Basta mesmo essas saídas pra deixar o Capitalismo mais humano? Basta mesmo medidas governamentais pra mudar comportamentos? Há tempos me faço essas perguntas...


Todavia, o que vi ali, além do espetáculo de ver pronunciamento de Dilma, seguido pelo de Lula, foi uma população de rua ou catadores de material reciclável que não são tão solidários assim. Pessoas que estavam na frente de todos subiram nas cadeiras e impediram a visão das mais de 2.000 pessoas atrás deles. Faixas não foram colocadas em locais estratégicos e também impediam a visão. Pessoas pediam passagem pra supostamente tirar fotos e ficavam em pé, a despeito da visão dos que estavam sentados imediatamente atrás delas... O que dizer sobre isso?


Não quero dizer aqui que foi tudo perdido. Que não foi bom. Ou reinterar preconceitos. Todavia, precisamos refletir com calma quando deslocamos a culpa das mazelas da humanidade e, especificamente, do nosso país, para os maus governos. Seriam eles mesmos os culpados? Pensemos: estamos preparados pra uma economia que se auto-afirma solidária? Para aonde foi a solidariedade dessa economia, eu me pergunto.


Por fim, mesmo que políticas governamentais tenham força – e eu acredito que tenham, pois eu vi pessoas de origens humildes falando de políticas públicas, aliás, exigindo políticas públicas – temos que lembrar que quem elege os governos somos nós. Assim, deixo uma reflexão que adoro do Brecht, ótima pra um final de ano eleitoral, como o nosso de 2010:


“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010




Pra variar não consigo ser coerente com meu blog... fico muito tempo sem aparecer por aqui.
Apenas queria contar como sei do meu humor pelas músicas:

Ontem acordei ouvindo Hammstein, som mais pesado, humor mais negro, incômodo com algumas coisas (que eu passo, porque eu me permito, enfim...)

Hoje acordei ouvindo Beirut, som mais leve, vontade de dançar, vontade de viver mais leve... A vida é linda, afinal, né?
E algumas pessoas transcrevem essas belezas em notas musicais.

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"I don't have no time for no monkey business"



Eu poderia escrever sobre políticas e segundo turno, como diversas vezes quase o fiz...
Eu poderia escrever sobre amor, paixões e tudo mais...
Eu poderia contar uma experiência legal!

Mas, quero apenas dizer que estou cansada, profundamente cansada da forma como alguns relacionamentos humanos se estabelecem... Não consigo mais ter paciência com velhos comportamentos, com velhas queixas, enfim. Preciso de novos ares.
Falta pouco pra eu sair do eixo...

"Sometimes I feel Im gonna break down and cry (so lonely)
Nowhere to go nothing to do with my time
I get lonely so lonely living on my own

Sometimes I feel Im always walking too fast
And everything is coming down on me down on me
I go crazy oh so crazy living on my own

Dee do de de dee do de de
I don't have no time for no monkey business
Dee do de de dee do de de
I get so lonely lonely lonely lonely yeah
Got to be some good times ahead

Sometimes I feel nobody gives me no warning
Find my head is always up in the clouds in a dreamworld
Its not easy living on my own"


quinta-feira, 2 de setembro de 2010




Coloco o fone de ouvidos. O portal atrás de mim se fecha. Caminho devagar, mas, com passos firmes... sei pra aonde vou. Ligo a música: Coldplay não sai do meu MP4 faz tempo. Sabe quando você, simplesmente, NÃO CONSEGUE para de escutar alguma coisa? Pois é.
Passos, passos, passos e mais passos. Cheiro de pão de queijo que acabara de sair do forno. Compro uns: café da tarde pra família. Continuo meu caminho e quando o semáfaro abre... Voilà: a música que mais amo desse álbum. Aumento o som, porque o som da rua é alto, os carros, as buzinas... e eu quero muito escutar. Introdução... já fico emocionada, porque, não é de hoje que essa música me lembra alguém... E uma voz macia começa: "A warning sign/I missed the good part then I realized/I started looking and the bubble burst..."

Continuo a caminhada. Passo por dentro da universidade. É incrível como alguns locais nos trazem as mais variadas lembranças! Amores, passeios, decepções... É um misto tão grande de coisas ali, que nem sei muito bem o que pensar. Daí não penso. Observo. Observo os estudantes à minha volta, observo que cada um caminha em seu próprio mundo com fones de ouvido e que somente dividimos o caminhar e não a presença espiritual ali. A essa altura já me encontro próxima ao alojamento antigo -- onde se realiza uma das melhores festas juninas -- mas, não penso nisso. Observo com muita admiração a iluminação da tarde. O céu é avermelhado e existe aquele clima de felicidade, a despeito das pessoas que andam impunemente sem olhar para o Sol. Ele também as aquece...
Penso porque estou feliz. Um dia de trabalho, de aula de Francês, de amizades cultivadas com papos triviais. Realização pessoal. Amor... L'Amour... Sempre ele. Vontade de vê-lo. Amor. Sinto-me meio idiota quando me percebo apaixonada, mas, ça va... L'Amour.

Caminhada continua. O cheiro do pão de queijo me faz ter vontade de comer ali mesmo. Penso em tomar uma breja gelada que tem em casa. Ando novamente. Lembro-me de mais pessoas, de mais lugares, refaço mentalmente meu dia. Felicidade.
Continuo. Olho o rio. Perto de casa, falta uma subida e mais uns quarteirões. O Coldplay cede lugar ao Cartola... "Alvorada, lá no morro da Mangueira"... Nesse momento, o Sol já praticamente se despediu. Interessante que o sambista canta a Alvorada. Morro... Pesquisa. Periferia. Sim -- Felicidade.

sábado, 28 de agosto de 2010

Entre o peso e a leveza







Sempre estranho voltar a escrever depois de tanto tempo.
Mas, não pensei que deixei essa mania de escrever: muito pelo contrário!
Acontece que a vida de mestranda com dissertação por escrever pode ser, por vezes, desesperadora!

Ando me aventurando em escrever diários de campo. Isso é leve e me faz feliz! É diferente da escrita sistemática da academia. Sempre lembro-me do Florestan Fernandes, daquela escrita dura da academia, que pesa, que dói a cada palavrinha saída das pontas do dedo, que inquieta a cada releitura quase que viciada de revisão cega...

Diário de campo é leve. O meu é leve. O campo é divertido... Tem campos que lidam com uma realidade devastadora da vida humana. Mas, o meu é leve. Tem polícia, tem política, tem de tudo. O meu campo é leve...

Por que fico insistindo nessa coisa de leveza? Porque desde que terminei de ler o Kundera não me livro desses dois pares de oposição, que segundo o autor, deixaram Paramênides tão encucado:

"O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime-nos contra o chão. Na poesia amoros de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o fardo do corpo masculino. O mais pesado dos fardos é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da realização vital mais intensa. Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está a nossa vida, e mais real e verdadeira ela é". (KUNDERA: 11)

Peso ou leveza? O que é melhor?
Es muss sein é peso e também leveza. Mas, isso fica pra outro dia.

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