"Se a Revolução Francesa se repetisse eternamente, a historiografia francesa orgulhar-se-ia com certeza menos do seu Robespierre. Mas, como se refere a algo que nunca mais voltará, esses anos sangrentos reduzem-se hoje apenas a palavras, teorias, discussões, mais leves do que penas, algo que já não aterroriza ninguém. Há uma enorme diferença entre um Robespierre que apareceu uma única vez na história e um Robespierre que eternamente voltasse para cortar a cabeça aos franceses.
Digamos, portanto, que a idéia do eterno retorno designa uma perspectiva em que as coisas não nos aparecem como é costume, porque nos aparecem sem a circunstância atenuante da sua fugacidade. Essa circunstância atenuante impede-nos, com efeito, de pronunciar um veredicto. Poderá condenar-se o que é efêmero? As nuvens alaranjadas do poente iluminam tudo com o encanto da nostalgia; mesmo a guilhotina.
Não há muito, eu próprio me defrontei com o fato: parece incrível mas, ao folhear um livro sobre Hitler, comovi-me com algumas das suas fotografias; faziam-me lembrar a minha infância passada durante a guerra; diversas pessoas da minha família morreram nos campos de concentração dos nazis; mas o que eram essas mortes comparadas com uma fotografia de Hitler que me fazia lembrar um tempo perdido da minha vida, um tempo que nunca mais há de voltar?
Esta minha reconciliação com Hitler deixa entrever a profunda perversão inerente a ao mundo fundado essencialmente sobre a inexistência de retorno, porque nesse mundo tudo se encontra previamente perdoado e tudo é, portanto, cinicamente permitido.
Se cada segundo da nossa vida tiver de se repetir um número infinito de vezes, ficamos pregados à eternidade como Jesus Cristo à cruz. Que idéia atroz! No mundo do eterno retorno, todos os gestos têm o peso de uma insustentável responsabilidade. Era o que fazia Nietzsche dizer que a idéia do eterno retorno é o fardo mais pesado (das schwerste Gewicht)".
In: KUNDERA, Mila. A Insutentável Levaza do Ser
Sem dúvida, uma das maiores vontades do ser humano é retornar, viver novamente, voltar no tempo, para - quem sabe?! - conseguir desta vez acertar...
E acho que não é só isso... Sabe aquele trecho de Poema? "E de repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa, morna e ingênua, que vai ficando no caminho..."
Acho que tem um pouco disso também...
Às vezes, sinto-me roubada de mim mesma. Parece que eu fui preterida por minha própria vide e em prol de algo que não sei muito bem o que que é... Isso é um saco!
Não se trata apenas do não jogar mais handebol, até porque, eu me machuquei e foi mais isso que me afastou dos treinos...
Trata-se de todas as apresentações de coral que não fui, de todos os carinhas que eu poderia ter paquerado, de todas as festas que eu poderia ter ido, das aulas de cello que eu não fiz, enfim...
O eterno lance de sofrer por "tudo que poderia ter sido e que não foi"...
É... a vida sempre nos prega peças... e ponto!
E faz-se necessário reconciliarmo-nos com nós mesmos!